(Foto: Assembleia de Notícias - ALEGO)
Nesta quinta, 28/7, é celebrado o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, uma das doenças infecciosas mais frequentes no mundo, mas que pode ser combatida. A data foi instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2010, com o intuito de alertar para a importância da prevenção, diagnóstico e tratamento da doença que, anualmente, infecta mais de 300 milhões de pessoas no mundo e mata cerca de 1,4 milhões.
De acordo com o Boletim Epidemiológico: Hepatites virais 2021, publicado pelo Ministério da Saúde Brasileiro, foram notificados (somente entre os anos de 1991 a 2019), mais de 670 mil casos da doença. Diante disto, a Lei nº 13.802/2019 criou o Julho Amarelo, a ser realizado em todo o território nacional, quando são discutidas e debatidas medidas com a pretensão de erradicar as hepatites virais.
Em Brasília, o Congresso Nacional aborda a temática em seus veículos de comunicação e recebe, ainda, iluminação amarela entre os dias 20 a 30 de julho, buscando promover a conscientização e prevenção das hepatites virais. A medida serve como alerta para um assunto tão sério e que pode ter como primeira providência a prevenção, bastando, para isso, que a população seja devidamente esclarecida.
Portanto, julho representa um momento de reflexão no que se refere à possibilidade de erradicação de algumas hepatites virais, sendo estas doenças infecciosas e silenciosas, causadas por vírus que têm afinidade pelo fígado. É um data importante do calendário por promover também o conhecimento acerca do assunto, pois só através dele é possível que ocorra a prevenção, quer seja através das vacinas ou de medidas protetivas contra o vírus causador da doença.
Conhecendo as hepatites virais
Mas o que são de fato as hepatites? De acordo com a presidente da Sociedade Goiana de Infectologia, a médica Christiane Kobal, o nome é dado para toda inflamação que atinge o fígado, podendo ser causada por vírus, medicamentos, álcool, doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. No Brasil, as hepatites virais mais comuns são aquelas relativas aos vírus A, B e C. Entretanto, existe, ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D (mais comum na região Norte do País) e o vírus da hepatite E.
Essas doenças, que ameaçam o fígado, são consideradas a segunda maior causa de morte entre as doenças infecciosas depois da tuberculose e, nove vezes mais pessoas são infectadas com hepatite do que com o HIV. As hepatites virais podem ser evitadas, tratadas e, no caso da hepatite C, curada. Entretanto, mais de 80% das pessoas que vivem com hepatite carecem de serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento, levando a óbito um número muito grande de pessoas em todo o mundo, conforme citado acima.
Em entrevista concedida para a equipe de reportagem da Agência de Notícias, a médica Christiane Kobal afirma que "todas as hepatites podem ser graves. Na sua forma aguda, podem inclusive levar à insuficiência hepática com necessidade de transplante de fígado. Em sua forma crônica, podem levar até à cirrose hepática e câncer de fígado". Entretanto, ela alerta que os óbitos podem existir em qualquer das fases, tudo depende da evolução do paciente, pois ele já pode ser portador de outras doenças, complicando, ainda mais, o quadro.
Kobal avalia que um dos grandes problemas das hepatites é que, via de regra, elas são assintomáticas, ou seja, silenciosas, impossibilitando o paciente de perceber que possui uma doença grave. Só mesmo quando surgem complicações mais sérias ou sintomas, tais como febre, mal estar, dor abdominal, vômitos, icterícia, urina escura e fezes claras, que o paciente suspeita que pode ter alguma coisa errada. Por isso, segundo Kobal é muito importante procurar um médico para realizar exames de rotina, pelo menos uma vez por ano, para se certificar de que a saúde está realmente em dia.
Prevenção ainda é o melhor remédio
A infectologista alerta que o conhecimento ainda é o maior aliado para combater e erradicar todas as formas da hepatite, pois só através dele é possível quebrar o ciclo de transmissão que sustenta a doença. O mecanismo de transmissão das hepatites tipo A e E pode ser fecal-oral, ligado a condições de saneamento básico, qualidade da água, alimentos contaminados e má higiene pessoal. Enquanto a via de transmissão das hepatites tipo B e C estão relacionadas às questões sexuais (sendo considerada uma doença sexualmente transmissível) e sanguíneas (através de objetos perfurocortantes como agulhas. e alicates e transfusão de sangue).
Como forma de prevenção, a especialista defende que algumas medidas simples podem ser adotadas, sendo a primeira delas a realização das vacinas para as hepatites tipo A e B. Outras medidas incluem o uso somente de água filtrada para cozinhar e beber; realizar uma boa higienização dos alimentos que são consumidos crus e promover o cozimento dos demais; adotar o hábito de lavar as mãos frequentemente; fazer tatuagens ou colocar piercings somente com materiais descartáveis; considerar que objetos de uso pessoal (escova de dente, lâmina, material de manicure e pedicure) não devem ser compartilhados e, por último, mas não menos importante, utilizar preservativos durante as relações sexuais, dentre outras.
De acordo com a infectologista, os dados revelam que "as hepatites podem afetar pessoas de qualquer idade, sexo, raça ou classe social. Entretanto, as pessoas que vivem em condições sanitárias e socioeconômicas mais precárias estão mais sujeitas a contrair a doença". Por isso mesmo, mais da metade dos casos registrados no País ficam concentrados na região Norte e Nordeste, onde a população ainda não tem acesso a água tratada e a rede de esgoto.
Para impedir o ciclo da doença, a médica ensina que o primeiro passo é a prevenção, feita através das vacinas e dos hábitos saudáveis de vida. Depois, o segundo passo é fazer o diagnóstico precoce da doença para só então definir, juntamente com o médico especialista, qual é a forma de tratamento que deve ser seguida. Importante enfatizar que, tanto a hepatite B e C, têm diagnóstico fácil e rápido em todo sistema de saúde pública, bem como tratamento com medicação oral e gratuita.
Vacinação faz toda a diferença
As vacinas são ainda hoje a principal forma de prevenir e erradicar doenças, sendo a maioria delas desenvolvidas para prevenir doenças transmitidas por vírus, como nesse caso específico das hepatites virais. A função de uma vacina é ensinar ao organismo a produzir anticorpos para combater doenças e preservar a saúde humana. Assim, quando a pessoa vacinada entra em contato com o microrganismo, tem uma boa resposta imunológica, tornando-se imune àquela doença. A prática da imunização já é histórica.
A OMS estima que dois a três milhões de mortes são evitadas, anualmente, graças ao uso das vacinas, feitas através das campanhas nacionais de imunização. Assim, diversas doenças que antigamente atingiam a população de forma muito agressiva, hoje podem ser classificadas como controladas e, algumas, até mesmo erradicadas.
A vacina da hepatite B é considerada tão importante, que é ofertada pelo sistema público de saúde e está entre as primeiras que o bebê deve receber na vida. Ela faz parte de um esquema vacinal, composto por três doses, que devem ser concluídas até o sexto mês. Além disso, o ideal é que ela seja ampliada e combinada (hepatite A + B), sendo utilizada na primovacinação de crianças, completando o calendário vacinal desses dois tipos da doença, até os 15 anos de idade. Em circunstâncias excepcionais, cientistas recomendam uma quarta dose para completar o esquema vacinal e garantir a indução da imunidade de longo prazo.
Nos casos em que a mãe é portadora da doença, além das doses propostas pelo calendário vacinal, o bebê deve receber a imunoglobulina específica para hepatite B, preferencialmente logo ao nascer ou até o sétimo dia de vida. Aqueles que, por algum motivo, não receberam a quantidade de doses necessárias podem fazê-lo a qualquer momento da vida.
Já a primeira dose da hepatite A só é realizada quando a criança completar 12 meses ou um ano de idade, sendo o reforço feito aos 18 meses. Entretanto, essa vacina só pode ser encontrada na rede particular. Caso o protocolo não tenha sido seguido adequadamente, a recomendação é de que essas doses sejam feitas, ainda que tardiamente. Por isso mesmo, as vacinas das hepatites A e B constam, inclusive, do calendário de vacinação de pessoas idosas, para aqueles que não foram vacinados anteriormente, pois sempre é tempo de cuidar da saúde.