(Foto: Arquivo Pessoal)
Na véspera do Dia da Consciência Negra, um parlamentar quebrou uma placa de uma exposição na Câmara dos Deputados que fazia relação entre violência policial e à população negra. O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) arrancou e pisoteou um quadro ilustrado com uma charge do cartunista Carlos Latuff, que mostra um jovem negro algemado, caído no chão e um policial armado andando na direção contrária, com título “O genocídio da população negra”.
O texto da charge informava que os jovens negros são as principais vítimas da ação letal das polícias no Brasil e explicava também que a população negra é maioria no sistema carcerário do Brasil. O parlamentar fez filmou o momento em que quebra o quadro e divulgou nas redes sociais.
Na gravação, o deputado Coronel Tadeu afirma que é “claro que o racismo é crime”. E continua: “Coisa mais abominável hoje na sociedade brasileira e mundial. Isso é racismo, policial de boina preta, arma na mão, sujeito negro. Isso quer dizer o quê? Que a polícia só mata preto? Isso aqui não vai ficar na parede, Isso aqui é contra a polícia.”
Mais cedo, outro deputado, Capitão Augusto (PL-SP), havia pedido à presidência da Casa a retirada da placa da exposição, com argumento de que retratava negativamente a figura do policial.
“Conforme se verifica do conteúdo da imagem, há a absurda atribuição da responsabilidade pelo genocídio da população negra aos policiais militares, prestando-se, assim, verdadeiro desserviço junto à população que trafega pelas dependências da Câmara, retratando negativamente o salutar papel dos policiais militares para a manutenção da ordem pública no nosso país”, reclamou o deputado.
O deputado afirma que “policiais militares, que todos os dias colocam suas vidas e de suas famílias em risco para garantir o bem estar dos nossos cidadãos, devem ser reconhecidos, privilegiados e valorizados”.
Em suas redes sociais, a também deputada Talíria Petrone (Psol-RJ), que é da oposição, publicou vídeo do momento em que Coronel Tadeu arranca a placa da exposição na Câmara dos Deputados.
Autor da charge, Carlos Latuff condenou a atitude do deputado que destruiu a placa. “Quando esse policial [o deputado é coronel] promove essa agressão, ele está confirmando a mensagem da charge. Está confirmando não só a violência policial, como a tentativa de censura de toda violência policial”, disse, em publicação nas redes sociais. “Vejo isso com zero surpresa, na verdade ele está confirmando a truculência da polícia brasileira.”
Para ele, “a censura é estúpida, idiota, justamente porque acaba promovendo a imagem”. “Se não tivesse nenhum incidente, seria mais uma exposição, no momento que tem esse ataque você acaba colocando holofotes sobre a imagem e sobre o tema da imagem.”
Parlamentares da oposição reagiram e vão apresentar uma denúncia no Conselho de Ética e na Procuradoria-Geral da República contra o deputado do PSL, por racismo.
A mostra intitulada (Re)existir no Brasil: Trajetórias Negras Brasileiras foi aberta nesta terça-feira (19) em referência ao Dia da Consciência Negra. Fica no corredor que liga o plenário da Casa aos anexos que ficam os gabinetes e as comissão e tem duração de um mês.
Também nesta terça, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que a menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, baleada no Rio de Janeiro em 20 de setembro, foi morta por um policial militar. Ela foi atingida quando voltava para casa com a mãe, dentro de uma kombi, no Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade, durante uma ação da polícia militar.